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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Leituras de final de ano


Por uma dessas razões imponderáveis da vida, em meio a tantas correrias de final de ano, consegui ler alguma coisa interessante. Por exemplo, outro livro do John Fante, de quem havia apreciado o "1933 foi um ano ruim" (vide comentário no arquivo de posts anteriores). Desta vez foi "Pergunte ao pó", publicado em vida (se não me engano, a edição de 1933 é póstuma). Tido como seu principal livro, ele soa denso e nervoso, às vezes quase brutal. Porém, parece ter um ritmo espontâneo, não marcado previamente, não estudado. Os episódios vão se sucedendo dentro de uma trama banal, que acompanha o candidato a escritor Arturo Bandini (protagonista também em outro livro) em uma desastrada evolução (ou não...) na busca da realização profissional e amorosa.
No início, temos a impressão de que a história não quer engrenar. Episódios banais, mesmo os primeiros desencontros com a garçonete mexicana Camilla, soam artificiais e fora do tom. Depois, vai ganhando intensidade, e nos flagramos acompanhando o destino das personagens. Bukovski dizia que Fante era (é) um escritor que não tem medo das emoções. O livro parece confirmar isso, em seu estilo irregular de narrativa e escrita. Ao final, deixa um gosto amargo na boca do leitor. Afinal, o que restou além da loucura e da miséria das personagens...?
Depois, fui conhecer o lançamento do Veríssimo, "Os Espiões". Incrível como, para nosso deleite, sua maneira de escrever textos mais longos vai se cristalizando. Eu o li depois de uma aventura não tão bem sucedida com "A décima segunda noite", uma comédia inspirada em Shakespeare ("Noite de Reis"), onde o narrador é um papagaio que conhece Flaubert e cita o próprio autor de "Romeu e Julieta", mora em Paris e está a caminho da morte.
O livro mais recente, no entanto, é leve e tem um ritmo delicioso. A trama, muito engraçada, fisga o leitor desde a primeira página, a exemplo dos policiais, e de seus primos mais distantes, os romances de espionagem. Um mau-humorado e etílico funcionário de uma pequena editora recebe uma correspondência misteriosa, de uma candidata a escritora que está escrevendo sobre sua própria vida. E no final, promete suicidar-se. Mora em uma cidade pequena e desconhecida, no interior do Rio Grande. Obviamente, o protagonista e seus amigos irão se envolver com a situação e encetar uma desastrada aventura rumo à cidadezinha de Frondosa e seus malucos habitantes.
Bem, já valeu o dezembro...