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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Mais um pouco de Harry Potter

Estou de volta. A esta altura, como podem imaginar, já concluí o primeiro volume e iniciei o segundo. As impressões que descrevi no post anterior se fortaleceram com a leitura da segunda parte de “Harry Potter e a pedra filosofal”. Ganharam mais intensidade as qualidades que vislumbrei na leitura da primeira parte desse livro.
No entanto, depois que escrevi o post e voltei à leitura (dentre tantas outras atividades do dia-a-dia), eu me senti tentado a comparar o livro com outro monumento de vendas arrasadoras que li há alguns anos: “A sombra do vento”. Ele é bem mais competente na construção da ambientação, que julgo ser um dos pontos fortes de Rowling. Sem que haja perda do ritmo da narrativa ou do próprio correr do texto, o autor (o catalão Carlos Ruíz Zafon) constrói um cenário igualmente gótico mas com mais riqueza de detalhes e profundidade. Verdade que o livro é mais amplo e possui mais unidade do que a que se encontra nos sete volumes do bruxinho (é preciso retomar as informações a cada novo volume, supondo que esteja sendo lido por alguém que ainda não conhece os episódios dos livros anteriores...). E também é verdade que o romance catalão dá mais ênfase aos conflitos e ao mundo interior das personagens, em oposição ao mundo palpável, tirando desse conflito toda uma arquitetura específica. Que não é nem o mundo exterior de uma Barcelona de qualquer época, e nem é apenas a paisagem interna dos protagonistas, sempre movediça.
Também o público leitor dessas duas obras é completamente diverso. Logo, as expectativas de cada um deles, são igualmente diferentes.
A autora de Harry Potter, no entanto, às vezes é feliz na descrição desses cenários com poucas pinceladas. Como na descrição das passagens na casa do Rony, na primeira metade do segundo livro (“Harry Potter e a câmara secreta”). Porém, tem momentos em que o mundo que se pretende construir cai no vazio por falta de consistência.
Essa mesma consistência parece inexistir em algumas passagens do segundo volume. Por exemplo, o episódio em que Rony  “toma emprestado” o carro que seu pai adaptou (ou enfeitiçou) para voar. Ou o sentimento bobo de admiração que seu pai tem em relação ao mundo dos “trouxas”, sendo que o mundo dos magos seria muito mais atraente e emocionante. A própria situação de tensão entre este nosso mundinho comum e dos bruxos parece muito contraditório, mesmo dentro do contexto fantástico da obra.
Porém, é cedo ainda para mais conclusões.
O fato é que as construções impressionantes de J. K. Rowling atrairam multidões, e acabaram por fazer emergir, da sua imaginação, um mundo gigantesco e consistente em torno de Howgwarts. Essa é a grande e eterna magia da literatura. Ou seja, o segredo dos seus mistérios ainda está longe de ser desvendado. Mas voltaremos ao tema ainda, qualquer dia desses.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O segredo de Harry Potter

Desta vez não teve jeito. Fui coagido pela minha filha Thaís, de dez anos, a começar a ler Harry Potter. O argumento era forte, quase infalível. Se eu sou um autor de livros infanto-juvenis, se adoro ler, por que então ainda não conhecia a saga do maior sucesso em livro, amado e lido por crianças e jovens do mundo todo, e também sucesso em filme, vídeo, jogos, parques, e tudo o mais?

Sim, era uma esquisita e incômoda contradição.
Além do mais, eu nem teria a desculpa de que seria difícil encontrar o livro. Se não tivéssemos um exemplar em casa (e tínhamos!), seria fácil de encontrar o primeiro volume da série (Harry Potter e a pedra filosofal) em qualquer livraria ou sebo da cidade.
Pois bem. Aceitei o desafio, com a condição de ir lendo a aventura aos poucos e nas horas de folga.
Finalmente, eu iria decifrar o mistério e o segredo de Harry Potter.
Não o da personagem.
Mas o da monumental criação literária de J. K. Rowling.
A princípio me espantou o ritmo da narrativa. A autora não parece preocupada em criar grandes momentos de suspense. Ou, se engendrou cuidadosamente as passagens de um capítulo para outro, para criar um suspense fabricado, forçando o leitor a avançar desesperado para o capítulo seguinte, então ela disfarçou bem a técnica.
Aparentemente, conta a história de um menino que descobre pertencer a uma família de bruxos. A partir daí, será encaminhado para uma famosa escola de bruxaria, Howgwarts. Uma história aparentemente banal. Mas que consegue prender o leitor desde as primeiras páginas.
Ou seja, ela é boa nisso.
O vocabulário também é bastante estudado. O repertório da autora consegue descrever as cenas e os ambientes em poucas palavras, mas deixando uma impressão forte e bem construída no leitor. Mas sem palavras complicadas. As que aparecem no texto são justamente os nomes criados para caracterizar o universo mágico da personagem. Ou seja, qualquer leitor de oito ou nove anos com um mínimo de experiência e vontade, como foi o caso da Thaís, tira de letra.
E aí surgem mais dois componentes interessantes e igualmente determinantes. As personagens, principalmente o protagonista, acabam por cativar o leitor, apesar dos estereótipos terríveis como a varinha mágica e a tão batida vassoura voadora. Ela até que foi ousada em apostar nesses velhos componentes. E acabou por convencer.
Esses e outros elementos parecem ficar bem colocados dentro do contexto geral da história. Ainda há outras personagens interessantes, como o gigante Hagrid e os professores do colégio de bruxos, ou o colega Draco, o vilãozinho pedante.
Bem, estou apenas na metade do primeiro volume, “Harry Potter e a pedra filosofal”. E olhem aí outro elemento batido em tantas histórias boas e más, a tal pedra filosofal. Mas já deu para ter uma ideia daquilo que seria talvez o componente decisivo, que deu força à série e encantou definitivamente os leitores: a ambientação das cenas.
Até agora me parece que a autora, com muita competência (sim, podem falar o que quiserem, mas para vender milhões e milhões de livros em dezenas de línguas pelo mundo todo, é preciso ser competente no que se faz...) conseguiu driblar os pontos fracos, os estereótipos e as cenas pouco convincentes, para usufruir do lado forte da sua criação: as personagens, que conseguem conquistar os leitores de assalto, e os ambientes, com ricas referências em poucas palavras, jogando o leitor imediatamente na atmosfera da cena.
Não, não chegarei a ser um fanático, desses que vão ao parque da Universal Studios e trazem para casa até as varinhas mágicas do Harry Potter, dentre tantos outros suvenires. Ou, como se intitulam os loucos pelo bruxinho, um Potterhead.
Mas vou em frente. Não está sendo tão difícil assim.
E a qualquer momento, prometo que vou voltar aqui para falar de outras impressões.
Até!