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domingo, 13 de outubro de 2019

Um Hemingway sem unanimidade




Dentro da obra relativamente vasta de Ernest Heminway, “Do outro lado do rio, entre as árvores”, publicado em 1950 é, quase um caso à parte, um divisor de águas. Só não podemos chama-lo assim definitivamente, porque sua última obra-prima, “O velho e o mar”, lhe sucede em dois anos.
Em muitos artigos e ensaios a respeito do escritor, esse livro  sequer é lembrado. A preferência da crítica e dos leitores sempre recai sobre “Por quem os sinos dobram”, “Adeus às armas”, “O sol também se levanta”, além da já citada novela a respeito do pescador Santiago. Desses, um ou outro sempre é mencionado em abordagens a respeito de técnicas narrativas, estilo e outros aspectos literários, o que já demonstra sua importância no cânone do século vinte.
Por duas oportunidades eu havia começado a ler “Do outro lado do rio...” (“Across the river and into the trees”), sem, no entanto, passar dos primeiros capítulos. Seus principais assuntos são a guerra, o amor, a velhice, a memória e a morte. Agora, acabo de concluir a leitura da longa epopeia do coronel Richard Cantwell em sua volta a Veneza para uma caçada de patos selvagens. O romance avança no ritmo das digressões e lembranças do veterano militar americano, cuja principal herança são suas aventuras nas principais guerras de seu tempo. Essas lembranças ocupam a quase totalidade dos capítulos. De início, ficamos sabendo que ele está de volta a Veneza para uma caçada, e que tem sérios problemas cardíacos, além de incômodas sequelas e cicatrizes que carrega de uma guerra para outra. É essa toda a bagagem que ele traz até ali, onde, dias antes da caçada, reencontra Renata, seu jovem amor italiano de dezenove anos.
De onde está, em meio à caçada, logo nos primeiros capítulos, ele inicia volta de alguns dias no passado, quando, após chegar a Veneza, convive com alguns amigos, faz passeios, entorna um variado cardápio de bebidas (como boa parte das personagens de Hemingway) e reencontra a amante. Ou seja, o romance traz dois movimentos em direção ao passado, característica de quem está olhando para a vida sob a perspectiva da aproximação do fim. E então, ao longo de 38 capítulos, ele vagueia por Veneza entre hotéis e bares e, na convivência com Renata, relembra inúmeras passagens das guerras de que participou, entre comentários a respeito de fatos das batalhas, da história dos Estados Unidos (como a campanha do General Custer, por exemplo), julgamentos pessoais a respeito de líderes militares que conheceu,  referências ianques específicas e diálogos banais com a namorada. Isso tudo torna o livro uma viagem um tanto arrastada e, muitas vezes repetitiva. Mas vai compondo um lento painel de sua vida e sua personalidade. Chega a ser estranho para os leitores dos nossos dias, que uma jovem de dezenove anos, cheia de vivacidade, se disponha a passar infinitas horas ouvindo relatos de guerra, estratégias e táticas militares. Soa um tanto forçado. E, mesmo se não fosse, ficamos imaginando qual o leitor ideal desse livro. Talvez o americano ou o italiano dos anos 1950´s, que acabou de vivenciar as angústias e perdas de uma guerra mundial e viu o mundo quase devastado pela temerária aventura nazista.
À parte isso, o coronel Cantwell é uma personagem bem construída, com seus conflitos, sua decadência e a consciência da morte que se aproxima. Impossível não vislumbrar um paralelo com a biografia do autor.
O livro parece um tanto longo e, em alguns momentos, falta conteúdo e ligação entre os principais assuntos da obra (a morte, o amor, a coragem, a vida na guerra...). E é um Hemingway. Por isso, ficamos num dilema para decidir se afinal, podemos colocá-lo ao lado da célebre tetralogia acima mencionada. Já li comentários apaixonados a respeito dessa obra. Há quem o coloque como livro de cabeceira, há um contingente de leitores fiéis e apaixonados.
Na ocasião do seu lançamento, o romance ficou três semanas encabeçando a lista dos mais vendidos do “The New York Times”, o que já diz algo a respeito do seu potencial. O grande apelo da obra é sugerido em quadros que ficaram em um passado já distante. Quase sempre eventos de guerra. O velho e decadente coronel, carregando sequelas e cicatrizes das aventuras, não teria muito o que falar a respeito de outros assuntos. Mas também fala de amor e afeto, muitas vezes de uma maneira rude e muito pessoal, com a sua namorada italiana. Que é jovem, bonita e igualmente apaixonada. Sabemos também da impossibilidade desse amor. Da proximidade da morte, que os irá separar. E o livro é um longo adeus.
Será mais um livro de memórias disfarçado? Muito provavelmente. No final da década de 1940, há episódios na biografia do velho escritor que se assemelham a fatos narrados no livro. Um affair marcante em Veneza, e a figura, já cinquentona, de um aventureiro com um passado de aventuras militares e caçadas, dentre outras: o próprio Hemingway.
Enfim, “Do outro lado do rio...” é uma obra para ser lida como uma extensa conversa com um velho amigo em uma mesa de bar. Aí, sim, ela funciona, e deixa entrever o estilo conciso, de frases seguras, imagens despojadas e diálogos espirituosos, que sempre marcou as memoráveis páginas do Papa Hemingway. Não é um livro arrebatador como “O velho e o mar” e os outros três que encabeçam a sua bibliografia. É para ser lido com calma, generosidade e disposição de caçador. Aí se poderá descobrir o sentido das esmeraldas que, em determinado momento do romance, o Coronel recebe de Renata, tornando-se um inesperado guardião daquelas joias.
De qualquer modo o livro sempre estará longe de ser uma unanimidade. O peruano Vargas Llosa, ganhador do prêmio Nobel de literatura, por exemplo, o considera “uma grande bobagem de Hemingway”. Entre o amor e o ódio, neste caso só não há lugar para a indiferença.

             


terça-feira, 19 de setembro de 2017

FAIR PLAY - 2


Chega afinal o grande dia.
Aquele que pode ser o da esperada vingança.
Devolver o 7 x 1 será improvável.
Mas um humilde 1 x 0 já vai dar para desengasgar qualquer garganta verde-e-amarela.
Final da Copa.
O dia da revanche.
O Brasil vem muito bem, com pinta de favorito.
Venceu todos os jogos com pelo menos dois gols de diferença.
Os rivais vêm aos trancos, ainda que sem barrancos.
França e Argentina, dois dos papões, haviam ficado nas semifinais.
Portugal, Bélgica, Espanha e outros candidatos, pouco antes, nas quartas.
O jogo é nervoso. O Brasil domina a partida, tem a posse de bola...
Mas a Alemanha é cirúrgica. Em dois contra-ataques, duas bolas na rede.
O Brasil começa a se perturbar.
Os Europeus atravessam o segundo tempo todo segurando um placar de 2 x 1 a seu favor.
Jogam com tática, disciplina, preparo físico e bom futebol.
O Brasil desce sempre com perigo. O cheiro do empate está no ar. É questão de tempo.
Bola de pé em pé entre os craques amarelinhos, e acaba sempre nas mãos milagrosas de Neuer.
Ou na trave.
Está para acontecer uma grande injustiça. A melhor equipe não vai vencer a Copa, mais uma vez. E lá se vai a vingança...
Tite olha para o banco, desesperado.
Gabriel Jesus está mal no jogo e precisa ser substituído. Depois de uma Copa brilhante, o garoto se cansou. Não aguenta sequer andar.
Roberto Firmino está suspenso.
Ainda bem que ele havia trazido um terceiro centroavante. Contra toda a lógica.
Ele só tem mais uma substituição.
Por que mesmo havia trazido aquele atacante alto do Corínthians? Ah, porque havia sido o maior artilheiro do ano. Estava voando baixo.
E costumava dar muita sorte nos momentos mais improváveis.
Tite respira fundo, fecha os olhos e chama o auxiliar:
"Põe o Jô para aquecer."
"Mas professor..."
"Não tem nada de mais nem meio mais... Eu estou mandando. É ele quem vai entrar."
"Mas professor..."
Não adianta discutir. O professor está tenso. Como nunca se viu antes. O Brasil não pode perder outra Copa. Não para a Alemanha.
É muita humilhação.
Trinta minutos do segundo tempo.
Gabriel e Jô se abraçam na beirada do campo.
A torcida toda, numa corrente pra frente, se enche de esperança. Perdido por perdido, quem sabe aquele centroavante polêmico... bem, só Deus sabe.
Trinta e cinco minutos.
Jô ainda não pegou na bola.
Neymar e Philipe Coutinho começam a tentar chutões da intermediária.
Nada dá certo para o Brasil.
Paulinho e Daniel Alves apelam para o chuveirinho na área alemã. Mas do outro lado aquele exército disciplinado afasta todas.
Maldito Neuer, que não dá nem rebote.
Quarenta minutos. Quarenta e dois.
Pela esquerda, Marcelo dribla dois germânicos e alça a bola para a área.
Jô se livra de outros tantos zagueiros gradalhões e vê a bola à sua frente. É agora ou nunca.
Neuer corre atabalhoado para fechar o ângulo.
A bola quica à frente de Jô e quase lhe escapa do controle.
É ele e a bola. A bola e o gol. A bola, o goleiro e o gol.
O zagueiro vem inesperadamente por trás e consegue dividir.
A bola sobe, dançando com o efeito, bate no braço do atacante brasileiro e tira da jogada ao mesmo tempo o goleiro e o defensor.
É Jô e a bola. É Jô e o gol.
Ele está acostumado, tem faro de artilheiro. Aquela é a sua praia, ele sabe o que fazer. Sua reação é rápida. 
O chute é certeiro, como tantos outros.
A bola estufa as redes.
Fazendo justiça, finalmente. O Brasil ganha o direito à prorrogação e agora vai virar em cima dos amedrontados alemães.
O árbitro oriental começa a correr para o centro do campo.
Mas não.
Jô chama o juiz coreano.
Aponta para o braço. Faz sinal de negativo. Ninguém ainda entende nada.
Agora sim.
Acostumado às constantes discussões sobre fair play em sua pátria, ele sabe o que fazer nesses momentos.
Ele quer dizer que a bola bateu em seu braço, que o gol não vale.
A torcida presente ao estádio não se conforma.
Começa a xingar o próprio centroavante.
"Traidor! Miserável! Vendido!"
"Desgraçado!"
"Vai ver quando voltar ao Brasil..."
"Vai ser recebido com pedradas! Corrupto!"
O juiz volta atrás e anula o gol, para delírio dos adversários.
Jô sorri, feliz, com a consciência tranquila. Redimido, afinal.
O árbitro apita. Os alemães se abraçam, felizes. Pentacampeões. Dão a volta olímpica.
Por todos os rincões do Brasil, jornalistas e torcedores se unem em um único e inconformado coro:
"Caceta, Jô!! Isso era hora para fair play, seu p*** !!"


FAIR PLAY



Final de Copa do Mundo. Brasil x Argentina, pela primeira vez na história.
Estádio lotado. Arquibancadas fervendo de tensão.
O Brasil vence por um a zero ao final do segundo tempo.
O relógio está quase parando. O tempo escorre a passo de tartaruga.
O Brasil vence. Mas quem domina o jogo é o rival.
Vem para cima dos canarinhos como um rolo compressor. Bolas na trave. O goleiro tupiniquim faz um milagre atrás do outro.
Tensão. Desde o início do segundo tempo, o Brasil leva um sufoco histórico, encurralado em seu próprio campo.
Quarenta e um minutos da etapa final, e o zagueiro brasileiro derruba o principal atacante platino dentro da sua área.
O juiz, convicto, manda seguir o jogo. Não apita a penalidade.
O zagueiro, no entanto, chama o árbitro e confessa que realmente derrubou o adversário.
"Foi pênalti, sim. Pode marcar", garante ele. E a torcida amarelinha presente no estádio aplaude o fair play.
Bola na marca da cal. O dez argentino bate com categoria, sem chances para o arqueiro.
Um a um.
Recomeça o jogo, com os brasileiros desorientados.
A vitória histórica parece haver escapado.
Na prorrogação, os brasileiros serão engolidos pelos argentinos, que vêm jogando muito melhor. Até o líder do time está assustado.
Quarenta e seis minutos do segundo tempo. Começam os chutões em direção à área adversária. Sem nenhum objetivo, sem nenhuma tática.
Quarenta e sete.
Os rivais tocam a bola, tranquilos, aguardando a prorrogação.
Quarenta e oito minutos. Última volta do ponteiro, como diziam os antigos narradores do rádio.
O Brasil não tem mais pernas, comentam todos. Não tem mais jeito. Chuveirinho desesperado na área argentina.
Último ataque brasileiro. Na verdade, um contra-ataque. De-ses-pe-ra-do. Bola na área da Argentina.
Ela sobe, sobe muito alto, faz uma curva caprichosa e vai caindo, traiçoeira, fora do alcance do goleiro.
O centroavante auriverde invade a área, ganha do zagueiro na corrida, reúne todas as suas forças e se joga de encontro à bola.
Quase em cima da linha do gol, a bola bate em seu braço e entra.
Gol do Brasil. Os argentinos reclamam, inconformados. Foi gol de mão!
Mas o árbitro, soberano nas decisões, aponta o centro do campo.
Dois a um.
Não há tempo para mais nada.
O juiz apita o final da partida.
Brasil campeão do mundo. Em cima da Argentina.
Porém, há algo errado.
Nas arquibancadas, ninguém comemora.
O argentinos, porque perderam a Copa.
Os brasileiros, porque venceram com um gol de mão.
Em todo o país, as emissoras se calam. Jornalistas em silêncio, constrangidos pela falta de fair play do atacante brasileiro. Locutores, apresentadores, comentaristas, narradores, analistas, ex-jogadores, todos estão envergonhados. Ninguém sabe o que dizer.
"Onde já se viu? Que absurdo! Que falta de honestidade!"
"É um verdadeiro bandido! Um marginal! Um corrupto!"
"Ladrão! Uma desonra para a pátria!"
"Que vergonha! O que o mundo vai pensar de nós?"
A equipe brasileira se retira para os vestiários cabisbaixa, sem comemorar.
Apenas o zagueiro brasileiro que pediu o pênalti será recebido no país como herói da nação.
O país até se esquece que acabou de se sagrar hexacampeão do mundo, justo em cima da Argentina.
Um torcedor anônimo sai às ruas em uma capital do sul, gritando: "Ganhar roubado da Argentina é muito melhor!".
Quase é linchado. Se a polícia não tivesse chegado a tempo...
No Palácio do Planalto, o presidente brasileiro se prepara para pedir desculpas ao seu colega platino.
Sua voz até falha ao repassar mais uma vez o discurso.
"Como é que isso podia ter acontecido? É inadmissível!"
Justo num país que sempre foi tão rigoroso com a ética! Com o fair play...!
Ainda bem que não somos daquelas nações que sacrificam criminosos em praça pública.
Caso contrário... aquele maldito centroavante verde-e-amarelo não viveria para contar a história.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Robin Williams eterno


O suicídio, no ano passado, de Robin Williams, um dos atores mais queridos de Hollywood nas últimas décadas, ainda não foi totalmente assimilado pelos seus milhões de fãs. Nunca será. Maluco ou sério, engraçado ou dramático, era um dos atores mais queridos das últimas décadas.
Agora a viúva, Susan Williams, traz uma nova e chocante revelação em uma entrevista à revista People. O que afetava o artista era um tipo de demência. Mais precisamente, a Demência por Corpos de Lewy (DLB).
É chocante pensar que, em um país com tantos recursos da medicina, um ator com uma idade ainda distante daqueles em que se fala em aposentadoria, pudesse ter a carreira (e a própria vida) abreviada dessa maneira. A vida é mesmo imprevisível. Talvez seja a face cruel da sua genialidade nas telas. Como iremos saber?
Só nos resta reviver seu talento através dos filmes que deixou.
Quanto a mim, sempre vou lembrá-lo como o professor transgressor de "Sociedade dos Poetas Mortos". Um filme para ser reprisado de tempos em tempos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

E esse tal livro digital?

        Muitos amigos têm me perguntado ultimamente a respeito dos leitores digitais. Minha opinião como autor e como leitor. A resposta é fácil. Não há como não reconhecer que se trata de uma evolução, como foi o computador e o processador de textos para quem gosta de ou precisa escrever. Novos recursos, maiores facilidades, mais versatilidade.
Imaginem quem quer ler um livro no original em inglês. Ou em  espanhol, holandês, polonês talvez. Mesmo para quem morava numa cidade média ou grande, com boas livrarias, não era nada fácil. Antes era preciso procurar uma loja, encomendar o livro e aguardar pela sua chegada. Levava dias, talvez semanas.

Agora, basta clicar no aparelho e-reader, escolher a opção e fazer a compra via cartão. Em questão de segundos o livro está pronto para ser lido, mesmo que tenha vindo da Indonésia ou da Rússia.
A leitura já é, por si, um sinônimo de liberdade. O livro digital vem ampliar esse conceito à medida que incorpora novos recursos de busca no texto, acopla dicionários e pode arquivar comentários dos leitores. Mas, principalmente, derruba a barreira do espaço físico das prateleiras cheias de livros e traz bibliotecas inteiras à ponta dos dedos. Além do mais, tende a ser mais barato do que o livro em papel. 
Há quem diga que não conseguirá abandonar o contato com o papel, o velho e bom hábito de fazer anotações a lápis em suas margens. Mas é questão de tentar. E de ver que se pode compartilhar anotações com leitores do mundo todo, e mesmo recuperar as anotações com mais facilidade.
Sem falar na infinidade de árvores, matéria-prima do papel, cuja derrubada será evitada. E imagine quebrar o limite físico de uma pilha de livros. Antes, quando ia viajar, gostava de levar dois ou três livros para ler nas horas de folga. Mas ficava pensando nas dezenas de outras opções de leitura igualmente deliciosas que havia deixado para trás. Uma questão de escolha. Impossível levar uma prateleira inteira dentro da bagagem.
Agora isso é possível. Não enchendo uma mala inteira, mas apenas um pequeno e leve aparelho eletrônico. Há muito mais a ser dito a respeito dessa encantadora experiência, mas não cabe aqui neste pequeno espaço. Faltou falar ainda do conceito que a Amazon está trazendo para o Brasil, o Kindle unlimited, permitindo "alugar" os livros que a gente quiser, dentre milhares disponíveis, por um valor fixo mensal (menos de vinte reais). Mais evolução ainda.
Sem dúvida o livro digital irá ampliar a experiência de ler, seja no PC, no tablet, na nuvem da internet, no smartphone ou no e-reader. Com ele dá para ler mais e melhor, também porque ele, o livro, sempre vai acompanhar a nós, leitores, muito mais de perto.

domingo, 7 de dezembro de 2014

O eterno dilema do futebol brasileiro

     Com mais uma Copa do Mundo realizada neste marcante 2014, desta vez no "país do futebol", tivemos oportunidade de repensar mais uma vez nosso espírito brasileiro. Somos um país alegre, um povo hospitaleiro e brincalhão, e um celeiro de craques, como se diz no senso comum. Verdade. Porém, mais uma vez, provamos que ao mesmo tempo, dentro de campo nos falta equilíbrio emocional. E fora, como acontece em quase todos os setores da vida brasileira, falta organização.
     Mais uma vez, como ocorre também nos Jogos Olímpicos (a outra grande festa mundial do esporte), nós perdemos quando somos azarões (afinal, os favoritos eram os outros mesmo...) e perdemos quando somos favoritos (o favoritismo pesou).
      Isso parece não acontecer com a maioria das potências esportivas. Ou talvez aconteça, mas em menor proporção.
      Voltemos ao futebol. Somos um fornecedor de matéria-prima em estado bruto (os craques). Ninguém viu nascer mais jogadores virtuosos em sua plagas do que nós, tupiniquins. Desde os primórdios do futebol, quando tentaram mudar o nome do esporte para ludopédio, sem sucesso. Desde os tempos de El Tigre Arthur Friedenreich, de Leônidas e Domingos da Guia. Técnica é conosco mesmo. Fomos os inventores da bicicleta, do drible chamado elástico, mas certamente não do carrinho. Acontece que o futebol, como todo esporte, não é feito apenas de tática. Como na guerra, precisa de táticas e estratégias. De força mental, preparação psicológica e organização. E de bons comandantes.
     A Copa brasileira nos mostrou mais uma vez que, ao longo da história, ficamos apenas na técnica. Técnica de Pelé, de Ademir da Guia, de Rivelino, de Nilton Santos, Romário, Ronaldo, Zico, Sócrates, Tostão, Gérson, Dirceu Lopes, Ronaldinho Gaúcho... a lista é interminável. Pecamos, porém, na tática. A última aventura do nosso selecionado nacional, sob a batuta do mestre Felipão, nos mostrou que... tática? Não tivemos nenhuma. Repetimos os mesmos erros, de não ter uma variação de jogo sequer, e de ficar dependentes de um único jogador. De não termos levado um jogador experiente para os momentos críticos, um líder substituto, ainda que longe de suas condições físicas e técnicas.
     Quando eu era criança, ouvia repetirem um senso comum: os brasileiros têm ginga, têm jogo de cintura e os europeus têm cintura dura. Por isso é que somos os reis do futebol.
     De alguma maneira, isso não funciona há muito tempo.
     Nunca conseguimos aliar a técnica refinada de nossos jogadores ao sentido de uma tática apurada e eficiente. E juntar a isso uma organização primorosa (para lembrar um adjetivo bem ao gosto dos locutores de antigamente) fora de campo. Se tivéssemos chegado a isso, seríamos imbatíveis. Mas basta olhar para a nossa história recente para perceber que ainda deixamos campeonatos mal-resolvidos, títulos nacionais que até hoje são questionados e discutidos.
     Os europeus - mais uma vez a julgar pelo senso comum - conseguiram igualar nossa técnica em poucos momentos. Com Puskas, Beckenbauer, Cruyff, Baggio, Bobby Moore... mas há muito tempo desenvolveram um senso de tática e de organização que nos deixaram no chão. A diferença é tanta que praticamente nenhum técnico brasileiro consegue trabalhar com sucesso na Europa. Por outro lado, também não conseguimos atrair técnicos europeus para cá, com as exceções de praxe. Problemas culturais e financeiros pesam decisivamente.
     Por que me lembrei disso tudo agora? Não foi por causa da última Copa do Mundo. A respeito dela, muitos cronistas já falaram mais e melhor do que eu, praticamente esgotando o assunto.
     É que sempre achei curiosa a dança dos técnicos em nosso futebol. Mano Meneses acaba de se despedir do Corínthians de uma maneira não usual. Classificou o time para a Libertadores (mesmo que para a primeira fase, o que é um aceno para a tragédia), mas mesmo assim vai embora. A diretoria corintiana está desunida, é verdade. Mas o técnico gaúcho chegou no início do ano para reestruturar a equipe, saturada após a conquista do título mundial. Em um ano, não conseguiu convencer a torcida e a diretoria. Merecia mais um tempo? Ele diz que sim. Mas um ano ainda é insuficiente para substituir alguns jogadores e alterar a maneira de o time jogar, implementando um padrão de jogo e variações táticas fundamentais?
      Mano dá a entender que sua saída do Corínthians foi precoce. Foi expulso do pomar quando ia colher os frutos do seu trabalho. Tive essa impressão quando da sua saída da seleção. Ele fez inúmeras experiências e percorreu boa parte do caminho, deixando-o aberto para que Felipão chegasse e ostentasse a aura de vitorioso por algum tempo. Infelizmente, muito curto também. Mas no Corínthians talvez tivesse tido um bom tempo (considerando o número de jogos que um time tem durante todo o ano, ao contrário da seleção) e um razoável elenco à sua disposição. Mas Mano parece ser aquele tipo de técnico frio e teórico, que precisa de calma para estruturar uma equipe ao longo de várias temporadas. Não tem aquele toque do mágico que em pouco tempo faz uma equipe desencantar. Como fizeram Marcelo Oliveira e Cuca. Não se iludam, corintianos: Tite também é assim, tem um jeito lento de fazer as coisas acontecerem.
      Em nosso futebol, porém, o tempo é marcado por um compasso nervoso, ansioso.
      Na Europa um técnico como Arsène Wenger está há quase vinte anos no tradicional Arsenal inglês. Ganhou poucos títulos, tomou goleadas, fez campanhas medíocres ao longo desse tempo. Mas continua firme no posto.
      Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Há equipes que trocam de técnicos cinco ou seis vezes por ano por aqui. E nem por isso melhoram seus resultados. Qual será o modelo ideal?
      Essas e outras perguntas continuam no ar. Por que nossos técnicos parecem tão abaixo do nível dos técnicos europeus? Precisariam estudar mais? E por que não o fazem? Ou são os jogadores que não conseguem executar as ideias dos seus comandantes?
      Nunca tivemos tão poucos técnicos em boa consideração por público e mídia: Cuca, Tite, Marcelo Oliveira, Levir Culpi... a unanimidade nunca foi tão escassa. E enquanto isso, continua a macabra dança das cadeiras, que não leva a lugar nenhum. Azar dos clubes, e dos sofridos torcedores.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Detetives renascidos

     A literatura policial acaba de perder uma autora do nível de P. D. James, uma das notórias damas do crime (ao lado da imortal Agatha Christie, de Ruth Rendell e outras grandes escritoras do gênero) nesta última semana, ao mesmo tempo em que vê nascer outra grande tendência nessa mesma área: a continuidade de personagens, já elevados ao olimpo reservado aos heróis imortais da literatura. Falo de dois detetives inesquecíveis: o inglês Sherlock Holmes e o belga Hercule Poirot.
      Mesmo quem não leu uma novela policial em toda a vida provavelmente sabe da existência dessas personagens. O primeiro, criação original do escocês, Sir Arthur Conan Doyle, teve seu nome associado ao sinônimo de sagacidade. Foi inspirado em um professor do curso que Doyle frequentava, se não me engano medicina. Não precisaria, mas ele está de volta no romance "A casa da seda". Foram necessários muitos anos até que os herdeiros do autor autorizassem mais um retorno (dentre tantos outros, concretizados pelo próprio Doyle), aceitando que o fosse pela pena de outro escritor. O autor da proeza é Anthony Horowitz.
     O livro é muito bem escrito e a história é até certo ponto original (sem spoilers, por favor...). Porém, causa muita estranheza saber que não é mais Conan Doyle quem assina o texto. Não se sabe até que ponto é uma rejeição inconsciente, ou um real afastamento do estilo original do criador de Holmes.
      Empreitada bem mais difícil esperava Sophie Hannah, ao escrever uma aventura de Hercule Poirot. Por quê? Acho que a explicação é igualmente deslizante. Poirot é provavelmente mais lido atualmente do que Sherlock pelos aficcionados do gênero. Mas ao mesmo tempo, Sherlock é onipresente: filmes, histórias em quadrinhos, jogos de tabuleiro, e pastiches... Já assumiu, portanto, mil e uma variações. Até Disney criou certa vez um tal Berloque Gomes. Mas Poirot, não. Exceto por alguns filmes e por uma série da TV inglesa, sua vida e seu universo estão nos livros de Agatha Christie. Ou seja, nas palavras. E é nesse terreno que Sophie Hannah precisa superar seu desafio. Além disso, Poirot é mais cerebral do que Sherlock e - perdão pelo sacrilégio - até certo ponto, mais sutil. A tarefa, portanto, parece ser mais difícil. E no entanto, a leitura de "Os crimes do monograma" também vale a pena para aqueles que - como eu - não conseguem ficar por muito tempo distantes de uma boa história de detetives.
       The question is: qual será o próximo grande detetive a ressurgir pela pena de outro talentoso autor? O comissário Maigret, de Georges Simenon? Philip Marlowe? Sam Spade? Ou o briguento mas irresistível Lew Archer?
       Façam suas apostas, cavalheiros!
   
   

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Paulo Vanzolini (1924 - 2013)

Leio nos principais sites da internet que o samba de São Paulo está mais triste. Acaba de deixar este mundo o sambista Paulo Vanzolini, autor de "Ronda" e "Volta por cima", principalmente. Assim como outros sambistas paulistanos, tinha sobrenome italiano. A exemplo do grande Adoniram, que era também Rubinato. João Rubinato. Talvez algum caricaturista tenha se lembrado de reuni-los no céu, em uma mesa de boteco lá no céu, de camisola e asinhas de anjo, batucando um samba.
Para mim, o Paulo Vanzolini é lenda há um bom tempo.
O sambista que preferia ser zoólogo, cientista respeitado.
Uma das lendas a seu respeito reza que ele utilizava o dinheiro ganho com direitos autorais para financiar suas pesquisas.
Outra história interessante: enquanto sua bela e espirituosa embolada "Balbina" era apresentada por outro intérprete em um festival de música em São Paulo (ou Rio?), ele estava enfiado nos confins da amazônia em uma de suas pesquisas sobre répteis, outra de suas grandes paixões. A letra de "Balbina", muito bem-humorada, tem um caimento perfeito com a melodia: "Não vou na sua casa e não é à toa / Ando ressabiado com tua patroa / Não sei se ela achou graça / Nós entrarmos na cachaça / Em companhia da empregada / Você diz que não é nada mas acho capaz / De ela estar zangada...".
Infelizmente, não foi sequer para as finais daquele festival, e talvez seja lembrada somente por aficcionados da MPB como eu...
Quanto a "Ronda", outra história interessante: ele não gostava de ser associado ao sucesso da sua criação. "De noite eu rondo a cidade a te procurar... sem encontrar...". Não gostava, achava um dramalhão barato. Bobagem. A música é um retrato inesquecível da noite boêmia paulistana.

Mas "Volta por cima" é inquestionável. Um samba antológico, com um toque paulistano, mas, acima de tudo, com alma brasileira. Me lembro perfeitamente da primeira vez que ouvi a música. Rodava um LP antigo da Maria Bethania, "Drama", gravado a partir de um show, e que ia emendando uma música na outra.  Eu estava ocupado com outra coisa e o disco rodando em background. De repente ela começou a cantar "Volta por cima":
          Chorei. Não precisei esconder.
          Todos viram. Fingiram.
          Pena de mim, não precisava...
          Ali onde eu chorei qualquer um chorava.
          Dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava...
          [ ... ]
Ali estava outro retrato inesquecível, com DNA da mais fina MPB.
Tive de parar tudo. E depois repetir a faixa um sem-número de vezes.
Paulo Vanzolini foi muito importante para a USP na sua área de pesquisa. Deixou uma colaboração marcante para a biologia, em nossos meios acadêmicos. O samba não era sua atividade profissional.
Imagina se fosse...

domingo, 17 de março de 2013

Absurdo! Livro de Alexandre Azevedo taxado de racista



                O vereador baiano Sílvio Humberto parece ter conseguido seus quinze minutos de fama ao denunciar como racista um dos mais de cem livros publicados pelo professor, filósofo e escritor Alexandre Azevedo. Definitivamente, conseguiu aparecer. Criar um factoide, bem ao estilo do líder populista carioca César Maia.
                Sinto, mas não vou gastar mais de um parágrafo a quem parece não ter compromisso com uma análise mais equilibrada dos fatos. Melhor falar a respeito da obra que causou tanta polêmica. Tenho comigo um exemplar da primeira edição (Editora Paulus, 1995), autografada pelo próprio autor em Ribeirão Preto. Resolvi reler o livrinho, direcionado às crianças recém-alfabetizadas. Trata-se de um poema de apenas quarenta versos, que conta a história da menina Fernanda e suas duas bonecas: uma nova e bonita, e outra velha e feia (feia por ser velha, já gasta, maltratada, surrada pelo uso, como todos os brinquedos que fazem sucesso com as crianças). Ao que parece, o distinto vereador sequer se deu ao trabalho de ler com atenção esses poucos quarenta versos. Deve ter subido à tribuna baseado em informações alheias. Porque tentei, com toda a isenção possível, enxergar qualquer traço de racismo oculto nos quarenta pequenos versos, e não consegui.
                Aliás, nós mal ficamos sequer sabendo quais são os atributos físicos das bonecas em questão. Sabemos que a boneca bonita (que ao final é rejeitada pela menina, que prefere a boneca “feia”) tem “grandes olhos azulados”. E nada é dito da boneca feia. Será morena então? Será oriental? Terá aparência indígena? O texto não diz nada a respeito. Muito menos que a boneca é negra.
                Ora, o racismo é um crime condenável, abominável. Tanto que é inafiançável. Quem irá contra isso? Mas uma coisa é o crime constatado e provado. Outra é o oportunismo. Posso falar de cadeira, pois tenho ascendentes africanos e me orgulho disso. Parece-me que alguns professores e um certo político viram nesse caso uma oportunidade para se sobressair na mídia. Ou algo que o valha.
                Poderia ser que o ilustrador houvesse sido levado, por algum motivo inconfessável, a desenhar uma bonequinha negra – o que também não ocorreu – mas mesmo assim não seria o caso de acusar o autor do texto. Para quem não sabe, o escritor dificilmente interfere e dá diretrizes na ilustração e no projeto gráfico da obra.
                Onde está a liberdade de expressão no estado de Ruy Barbosa, de Castro Alves, de Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro? É muito simples subir numa tribuna e, em minutos, condenar uma obra literária, taxando-a de racista, de preconceituosa ou o que quer que seja. E, dessa maneira, tentar desmerecer um professor de Literatura com mais de cem livros publicados e mais de vinte anos de trabalho pela cultura brasileira, levando, de norte a sul do país, uma mensagem de incentivo à leitura às nossas crianças e aos nossos jovens. É provável que essas pessoas sequer tenham se preocupado em conhecer melhor a biografia desse autor. Essas pessoas não fazem ideia das dificuldades por que passa um escritor que tenta honestamente viver de sua produção literária num país como o nosso, ainda sem tradição maciça de leitura, mesmo entre adultos com alguma cultura e formação acadêmica, infelizmente.
                Julguem por si mesmos, senhores, os versos causadores da polêmica, segundo uma nota assinada pela própria Fundação Palmares:
Fernanda tem duas bonecas.
Uma é linda de se ver.
A outra, coitadinha, é feinha de doer.
A bonita tem cabelo loiro, todo ele trançado.
Quando se puxa uma corda,
vira a cabecinha para o lado.
A feia tem pouco cabelo,
de tanto que já foi puxado.
Não tem pilha, não tem corda,
não se move para o lado

Onde está o racismo mesmo? Será que também personagem com pouco cabelo agora é indício de racismo?
                Mas o Alexandre não está em má companhia, muito ao contrário. Está em companhia, por exemplo, de Monteiro Lobato. Se houvesse encontrado pessoas tão intolerantes em sua época, o criador de Emília, Dona Benta e Tia Nastácia, talvez tivesse sido banido das escolas e das prateleiras das livrarias, deixando de divertir e instruir milhões de crianças até hoje. Felizmente isso não aconteceu e, apesar de certas reações paranoicas, ele continua a ser o mais conhecido, respeitado e querido escritor de livros infanto-juvenis do nosso país.
                Graciliano Ramos, um dos gênios da nossa literatura, foi acusado de antissemitismo.
                Joseph Conrad, escritor de origem polonesa que escreveu algumas obras-primas da literatura inglesa do século XIX (“Lord Jim”, “Linha de Sombra”, “Coração das Trevas”), também foi acusado de preconceituoso e racista. Só para ficar na Inglaterra, temos outro gigante da literatura, Charles Dickens (“Grandes Esperanças”, “David Coperfield”, “Oliver Twist”, entre tantos outros) que foi taxado de antissemita por algumas frases dentre aquelas suas dezenas de milhares de páginas que orgulham a literatura ocidental.
                Ah! Como é fácil fazer barulho em torno do trabalho alheio. Outros grandes autores poderiam ser lembrados. Mas, para concluir, basta ficarmos com um dos maiores fundadores da literatura moderna. William Shakespeare. Racista, antissemita e inimigo do Islã. Sim, também ele foi acusado de racismo porque Otelo era mouro e tem momentos de fúria, ao receber a notícia da traição de Desdêmona. E porque Shylock (“O mercador de Veneza”) era um judeu mesquinho.
                Melhor ficar por aqui. O absurdo é muito grande. Mas ele se junta à lista interminável de aberrações semelhantes do longo da história. Volto a repetir: o racismo é abominável, inaceitável e indesculpável. Se alguém tiver dúvida a respeito das ideias que defendo, por favor, dê-se ao trabalho de conhecer alguns dos meus livros, como “Resgate de Amor”, “A Fúria do Mundo” ou “A estrada de San Martín”.
                Porém, tão importante quanto combater esse execrável chaga da humanidade é saber reconhecer o racismo onde ele realmente está, distinguindo-o da mera liberdade da criação literária.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Yacamim, a floresta sem fim

Estou de volta depois de uma certa ausência.
Alguns compromissos, alguma correria, pequenos problemas. Às vezes parece que nosso tempo fica curto e vinte e quatro horas passam num sopro.
Mas aqui estou para falar da nova versão de "Yacamim, a floresta sem fim", cuja nova edição, com um belo projeto gráfico da Germana Viana, acaba de sair pela Giz Editorial. Aliás, a foto acima foi "capturada" de uma imagem do estúdio da ilustradora.
Yacamim é um trabalho pelo qual tenho muito carinho. Nele está muito da minha visão pessoal de mundo, da vida, de como a fantasia e a realidade se abraçam para a criação de universos únicos no imaginário de cada um de nós.
É uma história de persistência, de desafio e de descobertas. Mas não vou falar aqui de teorias literárias, nem fazer uma resenha, nem antecipar a história. Deixo todas as descobertas para vocês, leitores.
Mas o legal do trabalho foi o envolvimento diário de toda a equipe: as editoras Simone Matheus e Giulia Moon, a ilustradora Germana Viana e este autor que vos fala (apesar da distância física de São Paulo), conseguimos discutir e resolver cada um dos desafios que foram surgindo ao longo do projeto.
E as ilustrações, que considero um dos pontos fortes do livro, pois serão a primeira comunicação da história com o (candidato a) leitor, traduziram bem as cenas e momentos importantes da aventura da pequena e solitária Keila pelos mistérios dessa floresta encantada. Cumpriram seu papel de completar o texto e, mais do que isso, dialogar com ele, enriquecendo-o.
Mais do que isso, só mesmo bebendo da fonte do próprio livro... para conferir em primeira mão o trabalho dessa equipe maravilhosa que trabalhou comigo, ajudando a dar vida à novíssima edição de Yacamim.
E, para concluir, fiquem com uma das ilustrações da Germana Viana, que faz parte do livro.