
Sempre gostei de quadrinhos, desde criança. Como só temos uma vida (pelo menos de cada vez), muitas vezes temos de abrir mão de certos prazeres pela falta de tempo. Esse foi um dos interesses que acabaram ficando em segundo plano no meu dia-a-dia, infelizmente.
O mundo dos desenhos, ilustrações, cartuns e HQ's, no entanto, nunca saiu completamente da minha vida. Como autor de dezoito livros para crianças e jovens (de todas as idades, como diria o eterno lema da EBAL, clássica editora tupiniquim do mundo das bandas desenhadas), tive a felicidade de ver meus textos ganharem vida no traço de feras como Rogério Borges, Cecília Iwashita, Avelino Guedes, Humberto Guimarães, Semíramis Paterno e outros.
Voltarei a falar deles aqui, em momentos oportunos, com certeza.
Porém, minha primeira experiência com esse produtivo diálogo texto-ilustração ocorreu em 1987, quando a Editora Moderna publicou meu livro de aventuras "A morte do Conde". Geralmente, o autor não determina quem será seu ilustrador (que também é autor, através de outra linguagem). Pode sugerir, mas muitas vezes a parceria não acontece, devido aos mais variados motivos (custos, projeto gráfico, linha editorial, indisponibilidade do artista, etc).
Naquela ocasião, marinheiro de primeira viagem, nem havia conversado com o departamento editorial da Moderna sobre esse assunto. Como não havia internet, também não conheci os esboços ou os desenhos definitivos com tanta antecipação. Eu me lembro de, numa passagem por São Paulo (eu morava em Ribeirão Preto na época), ver a encarnação das minhas personagens já no traço definitivo do Colonnese.

E que surpresa! Eu já o conhecia através de outras ilustrações, e do trabalho com as histórias em quadrinhos. Conhecia, por exemplo, a
vampira nacional Mirza, mas não a relacionava ao ilustrador, naquele momento. Perdoável, uma vez que nunca tive muita queda por vampiros, sem desmerecer o trabalho marcante e definitivo do mestre Colonnese. Mas ver a ambientação e as personagens de "A morte do Conde" através dos quadros do Colonnese, foi um momento a ser guardado para a posteridade.
Ao dar corpo a este blog, tinha em mente falar (dentre tantos outros assuntos disponíveis) da minha experiência editorial, o que incluía a participação dos ilustradores. Por que não começar logo com o ilustrador do meu primeiro livro publicado?
Só que eu não o conhecia pessoalmente, nunca havia visto uma foto sua sequer, justo ele que era tão conhecido e respeitado por seu traço inconfundível!
Alguém havia me falado que ele era argentino. Mas nada como uma boa pesquisa na web para esclarecer as coisas. Eugenio Colonnese era italiano de nascimento, havia morado na Argentina efetivamente, mas havia adotado o Brasil desde os anos 1960.
E aí vem o lado triste da notícia.

O Brasil perdeu o grande ilustrador em 2008 aos 79 anos.
Este espaço é muito pequeno para falar de Eugenio Colonnese e sua obra, que terá talvez como referência imediata a vampira carnuda e sensual, tão marcante dentro do seu gênero que foi plagiada nos quadrinhos americanos (
Vampirella). Fica aqui, no entanto, esta pequena e pobre homenagem ao artista.